CDH E CRE-R se pronunciam sobre atual conjuntura política e social

CDH E CRE-R se pronunciam sobre atual conjuntura política e social

A Psicologia frente ao racismo e a ameaça à democracia

Em plena crise pandêmica, com o número de óbitos ainda crescente no mundo, estamos vivenciando, através da mídia, cada vez mais casos de violência e extermínio da população negra. Historicamente, estes povos foram e têm sido destituídos de seus direitos, de modo que, ao depararmo-nos com dados de violências, percebemos tal seletividade racializada.

No Brasil, a exploração colonialista da mão de obra negra e escravizada, cujo eixo de sustentação da economia brasileira advinha deste processo, foi central para o desenvolvimento econômico. A lei que libertou os povos negros não ofereceu alternativas concretas para subsistência destas pessoas, deixando-as à mercê de um sistema com fortíssimos resquícios escravocratas como forma de eliminação biopolítica, pois muitos deles deixaram a condição de escravizados, mas foram enquadrados em leis que os tornavam criminosos.

Com uma população tão diversa, sob o ponto de vista econômico, político, social e racial, como podemos falar sobre democracia? Que ações democráticas defendemos? A quem chega a frágil democracia de cunho liberal estabelecida hoje em nosso país? Não podemos nos enganar que, sob o ponto de vista político, esta democracia não alcança a população negra, os povos originários, indígenas e todas as parcelas da população que não se adequam às normatividades impostas pelo neoliberalismo e pelo colonialismo.

A política racial está relacionada com a política da morte, na qual as vidas de corpos negros valem menos. Hoje, vivenciamos, em luto doloroso, a morte do menino Miguel, de cinco anos. Um menino negro, filho da empregada, que foi colocado pela patroa da mãe, sozinho dentro do elevador. Recentemente, os noticiários veicularam a morte do menino João Pedro, 14 anos, morto dentro de casa, numa ação conjunta da Polícia Federal e da Polícia Civil, que entraram em sua casa atirando. Semana passada, nos EUA, George Floyd foi sufocado por uma policial na frente das câmaras.

A democracia que permite que vidas negras sejam exterminadas de forma naturalizada não é a que queremos. O mito da democracia racial sustentado pelo argumento de que o Brasil tem uma nação mista não se sustenta após conhecimento de tais fatos. Porém, sem democracia tão pouco pode haver respeitos à vida, aos direitos e à dignidade humana. Na mesma semana em que casos de repercussão nacional foram expostos, mais uma marcha contra o STF foi organizada. Desta vez com pessoas carregando tochas, armas e máscaras em alusão ao grupo supremacista Ku Klux Klan. Tal manifestação abre precedente e ganha adeptos a uma nova forma de ditadura e eugenia no país, algo para qual já vinha sendo atentado por alguns pesquisadores. É importante ressaltar que, para esses grupos, tudo o que aparece como distoante do modelo eugênico tem sido combatido, portanto, não são apenas as pessoas negras que são afetadas, o que aponta para uma maior generalização da violência.

A Psicologia se coloca hoje como uma das ciências mais progressistas presentes no tecido social brasileiro. Não é para menos: compreender a dimensão humana exige abrir mão de posicionamentos e pensamentos que limitam e ceifam a liberdade. Mas ainda temos muito a desconstruir. Cabe a nós não repetir a história da Psicologia no Brasil que serviu à práticas ditatoriais e enquadramento de perfis psicológicos. O silenciamento de subjetividades, processo no qual a Psicologia foi grande parceira de um Estado genocida e ditatorial, não pode estar no cerne de nossa atuação.

Comissão de Direitos Humanos (CDH)

Comissão De Relações Étnico-Raciais (CRE-R)

Conselho Regional de Psicologia do Rio Grande do Norte (CRP-17)

Conselho Regional de Psicologia do Rio Grande do Norte
crprn@crprn.org.br

O CONSELHO REGIONAL DE PSICOLOGIA DA 17ª REGIÃO é a entidade representativa da psicologia e do exercício da profissão de psicólogo com sede em Natal e jurisdição no Estado do Rio Grande do Norte.

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